segunda-feira, 7 de março de 2016

A imutável mente

Fonte: Google imagens

Passamos a vida buscando padrões, ainda que queiramos acreditar que, o que desejamos mesmo, é criar novas estampas para nosso cotidiano. Prendemo-nos a tudo aquilo que não muda, seja na arrumação de nosso armário, na forma como escovamos os dentes, na rota de nosso caminho para o trabalho ou na escolha de nossos amigos. Tal controle nos permite prever qual será o final. A impressão que tenho é que nos viciamos em nossas escolhas. Não nos permitimos a novas arrumações e nem a novas formas de amar.

Talvez entendendo o porquê de nos viciarmos possamos mudar esse padrão de escolha. A neurologista Suzana Herculano – Houzel diz que o cérebro gosta de acertar. Assim, para viciar, é preciso atingir o sistema de recompensa e gratificação do cérebro. Pronto, ciclo fechado, descobrimos qual é a do nosso cérebro, ele quer estar sob os holofotes dos acertos, quer ser aclamado como perfeito, imune a erros, inclusive, de suas previsões. O cérebro é um filhote desajeitado do ego.

O vício é causado pela mistura de amor, necessidade e prazer. Para Descartes, todas as coisas que viciam estão ligadas diretamente a maior recepção de nossos pensamentos, logo, fora de nós. Para ele, tudo que diminui a energia de nosso corpo e acelera o recebimento de nossos pensamentos pode nos viciar. Mas, por falar em amor e filosofia, Pitágoras diz que todas as coisas que se movimentam produzem um som. Para ele, o amor entre as pessoas surge justamente por isso. Quando duas pessoas se encontram e o som que suas células produzem se combinam surge a paixão. Ahhh, o amor....

As surpresas da vida não são muito bem aceitas pelo nosso cérebro, esse carinha que cria amarras para não quebrarmos seus padrões. São amarras como as barras de apoio do ônibus e metrô, onde seguramos a vida para não cairmos em uma brecada brusca do motorista desatento. O cérebro se apegará a essa amarra ou padrão até o fim, é o lugar comum. É onde moram todas nossas certezas incertas.

Quando existe a quebra de um padrão o cérebro reage a ela e a nega. Atire a primeira pedra quem nunca saiu chorando de um consultório médico por algum diagnóstico recebido. Quem nunca se sentiu paralisado diante disso? É esse carinha chamado cérebro que fez isso por você, ele não queria mudar o padrão. Buscou nomes diferentes para o diagnóstico, afinal, alguns nomes acalentam nossa alma.

Receber o diagnóstico de Esclerose Múltipla não é diferente. As incertezas em relação ao futuro assustam, ter consciência dessas incertezas assusta muito mais, o cérebro sente-se desconfortável com essa informação. Conhecer alguém com esclerose múltipla pode causar certo incômodo para os menos avisados. Afinal, estamos falando de uma patologia até pouco tempo pouco divulgada pela mídia. Alguns podem ficar surdos diante do som produzido pelas nossas células, a desinformação tem esse poder, o poder de silenciar.

Estou muito feliz e honrada em poder participar desse blog, quebrar amarras e abrir as portas das possibilidades. Nenhum desconforto é tão grande que não possamos modificá-lo e é a informação que cria novas conexões e novas formas de enxergar o futuro e é ela também que torna audível o movimento de nossas células.


Erika Longone

6 comentários:

  1. Perfeito, meu carinha não gostou muito por ter seus segredos revelados. Parabéns

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  2. Erika querida......a profissional que me ajuda a ter voz..que me orienta e nos apoia na ABCEM e que aprendi a amar, respeitar e admirar acima de tudo!
    Que texto fantástico.......seu poder de se comunicar tem uma amplitude surpreendente que traduz a mulher incrível que é, amiga divertida, conselheira e a profissional que tanto tem a oferecer a todos...e o faz, brilhantemente!
    Gratidão por fazer parte de nossas vidas!
    super beijo no coração
    Suzete Zanatta

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  3. Fiquei "sem pio" com a grandeza do seu texto!!!!
    Só tenho duas palavras aqui à portinha do coração: Parabéns e Obrigada!

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  4. O texto está maravilhoso.Parabéns!! Gostei demais.

    #juntosomosmaisfortes

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